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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Constantino e a Cruz


"Porque o rei de babilônia parará na encruzilhada,
no cimo dos dois caminhos, para fazer adivinhações;
aguçará as suas flechas, consultará as imagens, atentará para o fígado."
Ezequiel 21:21


UM FATOR DESTACADO QUE contribuiu para a adoração da imagem da cruz dentro da igreja romanista foi a famosa “visão da cruz" e subsequente “conversão” de Constantino. Quando ele e seus soldados se aproximaram de Roma, estavam prestes a enfrentar o que é conhecido como a Batalha da Ponte de Milvian. De acordo com o costume do tempo, os haruspícios (aqueles que empregavam adivinhação por meios como ler as entranhas de animias de sacrifício) eram chamados para darem conselhos. (O uso de adivinhações antes das batalhas também era praticado pelo rei de Babilônia: “Porque o rei de Babilônia parará na encruzilhada, no cimo dos dois caminhos para fazer adivinhações: aguçará as suas frechas, consultará os terafins, atentando nas entranhas.” - (Ezequiel 2l: 2l.) No caso de Constantino, ele foi dito que os deuses não viriam em sua ajuda, que ele sofreria derrota na batalha. Mas, então, em uma visão ou sonho, como ele relatou mais tarde, apareceu uma cruz para ele e as palavras, “Neste sinal conquistarás” No dia seguinte - 28 de outubro de 312 - ele avançou por trás de um estandarte com a figura de uma cruz. Ele foi vitorioso naquela batalha, venceu seu rival, e professou conversão. É claro que tal aparente vitória para a cristandade teve muito a ver com o uso posterior da cruz na igreja romanista.

Admite-se por toda parte, contudo, que a visão de Constantino da cruz provavelmente não é historicamente verdadeira. A única autoridade de quem a história foi compilada pelos historiadores é Eusébio, que confessadamente era propenso ã auto-exaltação e foi acusado de “falsificador da Histórial' Mas, se Constantino teve tal visão, poderemos supor que o autor dessa visão foi Jesus Cristo? O Príncipe da Paz instruiria um imperador pagão a fazer uma bandeira militar com o sinal da cruz e sair conquistando e matando sob aquele sinal?

O Império Romano (do qual Constantino tornou-se o cabeça) tem sido descrito nas Escrituras como uma “besta". Daniel viu quatro bestas que representavam quatro impérios mundiais - Babilônia (um leão), a Medo-Pérsia (um urso), a Grécia (um leopardo), e Roma. A quarta besta, o Império Romano, era tão horrível que foi simbolizada por uma besta que não parecia com qualquer outra (Daniel 7:l-8). Não vemos qualquer razão para supormos que Cristo diria a Constantino para conquistar com o sinal da cruz, o posterior sistema da besta de Roma!

Mas, se a visão não era de Deus, como podemos explicar a conversão de Constantino? Realmente, sua conversão é para ser seriamente questionada. Muito embora ela tivesse muito que ver com o estabelecimento de cenas doutrinas e costumes dentro da igreja, os fatos mostram plenamente que ele não foi verdadeiramente convertido - não no sentido bíblico da palavra. Os historiadores admitem que sua conversão foi “nominal, até mesmo dentro de padrões contemporãneos."

Provavelmente a indicação mais óbvia de que ele não foi realmente convertido pode ser vista no fato que, após sua conversão, ele cometeu vários assassinatos - incluindo o assassinato de sua própria esposa e filho! De acordo com a Bíblia “nenhum assassino tem a vida eterna habitando nele" (l João 3:15). O primeiro casamento de Constantino foi com Minervina, com quem teve um filho chamado Crispo. Sua segunda esposa, Fausta, deu-lhe três filhas e três filhos. Crispo tornou-se um soldado de destaque e ajudava seu pai. Ainda assim, em 326 - logo após dirigir o Concílio de Nicéia - ele condenou seu filho à morte. A história é que Crispo teve relações sexuais com Fausta. Pelo menos esta foi a acusação de Fausta. Mas este deve ter sido seu método de tirá-lo do caminho, de modo que um dos seus filhos pudesse reclamar o trono! A mãe de Constantino, contudo, persuadiu-o que sua esposa tinha “se entregado ao seu filhof' Constantino fez Fausta ser afogada até a morte em um banho super aquecido. Mais ou menos nesse mesmo tempo ele mandou açoitar o filho de sua irmã até a morte e mandou estrangular o marido dela - mesmo depois de ter prometido que pouparia sua vida.

Estas coisas são resumidas nas seguintes palavras da “The Catholic Encyclopedia: “Mesmo depois de sua conversão ele mandou executar seu cunhado Licínio, e o filho dele, como também Crispo, seu próprio filho do seu primeiro casamento, e sua esposa
Fausta...Após ler estas crueldades é difícil acreditar que o mesmo imperador pudesse às vezes ter impulsos calmos e ternos; mas a natureza humana é cheia de contradições.”

Constantino realmente concedeu numerosos favores aos cristãos, aboliu a morte por crucificação, e as perseguições que haviam se tornado tão cruéis em Roma, cessaram. Mas ele tomou estas decisões partindo puramente de convicções cristãs ou teve motivos políticos para agir assim? A The Catholic Encyclopedia diz: “Alguns
bispos, cegos pelo esplendor da corte, foram muito longe até ao ponto de louvarem o imperador como um anjo de Deus, como um ser sagrado, e profetizarem que ele reinaria, semelhante ao Filho de Deus, nos céus. Tem sido afirmado consequentemente que Constantino favoreceu o cristianismo meramente por motivos políticos, e ele tem sido olhado como um déspota iluminado que fez uso da religião para fazer avançar sua politica."

Tal foi a conclusão do notável historiador Durant com relação a Constantino. “Foi sua conversão sincera - foi ela um ato de crença religiosa ou um consumado golpe de sabedoria politica? Provavelmente a última... . Ele raramente se adaptou às exigências cerimoniais da adoração cristã. Suas cartas aos bispos cristãos tornou claro que ele pouco ligava para as diferenças teológicas que agitavam o cristianismo - embora estivesse desejoso de suprimir as divisões, no interesse da unidade imperial. Por todo o seu reino ele tratava os bispos como seus ajudantes politicos; ele os convocava, presidia seus concílios, e concordava em reforçar qualquer opinião que sua maioria formulasse. Um crente verdadeiro teria sido um cristão em primeiro lugar e um estadistas em segundo; com Constantino foi o contrário. O cristianismo era para ele um meio, não um fim."

As perseguições não destruíram a fé cristã. Constantino sabia disto. Em lugar do império estar constantemente dividido – com os pagãos em conflito com os cristãos - por que não tomar as medidas necessárias para misturar o paganismo e o cristianismo, colocando-os juntos, raciocinou ele, e assim trazer uma força unida para o império? Havia semelhanças entre os dois sistemas religiosos. Mesmo o simbolo da cruz não era um fator divisório, pois por este tempo estava em uso por cristãos e “para o adorador de Mitra, nas forças de Constantino, a cruz não podia trazer qualquer ofensa, pois há muito tempo que eles combatiam trazendo nas mãos um pavilhão com a cruz iluminada do mitraísmo?”

O cristianismo de Constantino era uma mistura. Embora ele tivesse sua estátua removida dos templos pagãos e tivesse renunciado ao oferecimento de sacrifícios para si mesmo, mesmo assim as pessoas continuavam a falar da divindade do imperador. Como pontiftce máximo ele continuou a frequentar os cultos pagãos e proteger seus direitos. Na dedicação de Constantinopla em 330 foi usado um cerimonial que era meio pagão e meio cristão. A carruagem do deus-sol foi estabelecida na praça do mercado e sobre ela estava a cruz de Cristo. Moedas feitas por Constantino apresentavam a cruz, mas também representações de Marte e de Apolo. Enquanto professava ser um cristão, ele continuava a acreditar em fórmulas mágicas pagãs para a proteção das colheitas e a cura de enfermidades. Todas estas coisas são indicadas na “The Catholic Encyc!opedia."1 Ainda assim, o conceito pelo qual a Igreja Católica Romana desenvolveu-se e cresceu - o conceito de misturar paganismo e cristianismo como uma forca unida - está claramente ligado a Constantino e os anos que seguiram, nos quais a igreja tornou-se rica e aumentada em bens.

Uma história que grandemente influenciou a adoração da cruz dentro da igreja romanista - muito mais do que aquela da visão de Constantino - centralizava-se em torno de sua mãe Helena. Quando com quase oito anos de idade, ela fez uma peregrinação a Jerusalém, a lenda diz que ela encontrou três cruzes enterradas ali - uma, a cruz de Cristo e as outras duas aquelas sobre as quais os ladrões foram crucificados. A cruz de Cristo foi identificada porque operava milagres de cura, por sugestão de Macários, bispo de Jerusalém, enquanto as outras duas não os operavam.

Diz um artigo na The Catholic Encyclopedia,“Uma porção da Verdadeira Cruz permaneceu em Jerusalém, encerrada em um reIicário de ouro; o restante, com os cravos, deve ter sido enviado para Constantino...Um dos cravos foi pregado no elmo do imperador, e outro na campainha do seu cavalo, fazendo cumprir, de acordo com muitos dos Pais, o que tinha sido escrito por Zacarias o Profeta: “Naquele dia se gravará sobre as campainhas dos cavalos: SANTIDADE AO SENHOR" (Zac. l4:20)"!I Este mesmo artigo, enquanto tenta conservar os ensinamentos gerais da igreja concernentes à cruz, admite que as histórias a respeito da descoberta da cruz variam e a tradição (que realmente desenvolveu-se anos mais tarde) pode ser bastante baseada nas lendas.

Que Helena visitou Jerusalém em 326, parece historicamente correto. Mas, a história de sua descoberta da cruz não apareceu até 440 - cerca de ll4 anos mais tarde! A idéia de que a cruz original estaria ainda em Jerusalém, quase 300 anos após a crucificação, parece muito duvidosa. Ao lado disto, as leis entre os judeus exigiam que as cruzes fossem queimadas após serem usadas para a crucificação.”

O que sucederia se alguém em nossos dias encontrasse a verdadeira cruz de Cristo e pudesse provar que era ela mesma? lsto seria de grande interesse, é claro; mas, haveria qualquer virtude naquele pedaço de madeira? Não, pois a cruz já serviu seu propósito, como o fez a serpente de bronze de Moisés. Relembramos que “Moisés fez uma serpente de bronze. e colocou-a sobre um poste, e aconteceu que, se uma serpente mordesse qualquer homem, ao olhar a serpente de bronze, ele viveria" (Números 21 :9). Levantar a serpente no deserto foi um tipo da maneira como Cristo foi levantado na morte (João 3:15). Mas, após a serpente de bronze ter servido seu
propósito. os israelitas a conservaram e fizeram dela um idolo! Assim sendo, séculos mais tarde, Ezequias “fez o que era reto aos olhos do Senhor. ..ele removeu os lugares altos, e quebrou as imagens e cortou os bosques, e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés tinha feito: pois até aqueles dias os filhos de Israel queimavam incenso para ela” (II Reis l8:l-4). Ezequias fez o que era “reto” - não somente destruindo ídolos pagãos - mas até mesmo aquele que Deus havia ordenado, pois já havia servido seu propósito original e agora estava sendo usada de maneira supersticiosa. Nesta mesma base, se a cruz original ainda estivesse em existência, não haveria qualquer razão para estabelecê-la como um objeto de adoração. E se não poderia haver qualquer poder na cruz original, quanto mais em um simples pedaço de madeira feito à sua semelhança?

Assim como os egípcios pagãos tinham erigido obeliscos, não somente como um símbolo do seu deus, mas em alguns casos a própria imagem era acreditada como possuindo poder sobrenatural, assim também alguns passaram a olhar a cruz da mesma maneira. Não havia ela ajudado Constantino na Batalha da Ponte de Milvian? A cruz por acaso não operou milagres para Helena? Ela veio a ser olhada como uma imagem que podia afugentar maus espíritos. Era usada como um talismã. Era colocada no topo das torres das igrejas para afugentar os raios, enquanto que, por causa de sua alta posição, era a própria coisa que atraía os raios! O uso da cruz em lares particulares era visto como algo que evitaria problemas e doenças. Muitos pedaços de madeira - supostamente pedaços da cruz “original” - foram vendidos e trocados como protetores ou talismãs.

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